“O meio é a mensagem significa, nos termos da era eletrónica, que já se criou um ambiente totalmente novo. O conteúdo deste novo ambiente é o velho ambiente mecanizado da era industrial. O novo ambiente reprocessa o velho tão radicalmente quanto a TV está a reprocessar o cinema.”

Herbert Marshall McLuhan, professor de diversas universidades no Canadá e nos Estados Unidos aparece como teórico preponderante e mais relevante na pesquisa sociológica na segunda metade do século XX, devido à sua influência como pensador do universo de meios de comunicação em massa que surgiam com a eletricidade (espacialmente rádio e televisão). Relativamente aos seus livros convém ressalvar a enorme influência que obtiveram, destacam-se “A galáxia de Gutenberg” de 1962 (livro que Manuel Castells – sociólogo espanhol – faz alusão no seu “A Galáxia da Internet”) e “Os meios de comunicação como extensões do homem” de 1974.

A obra de McLuhan apresenta um conteúdo chave para a compreensão dos meios de comunicação como ferramentas de compartilhamento de informação e conhecimento que se redimensionam na era eletrónica, portanto, dos meios de comunicação como (necessárias) extensões do homem através dos (na época) novos “mídias”.

No período da Guerra Fria, desenvolvimento de tecnologias de comunicação era sinónimo de poderio em alcance global, cientes os envolvidos da importância estratégica adquirida. O rádio, por exemplo, tecnologia barata dada o número de pessoas atingidas e a economia técnica necessária, era um exemplo de como era possível que as informações atingissem esse âmbito global, fato que foi posteriormente reiterado pela televisão.

Herbert Marshall McLuhan foi um destacado educador, intelectual, filósofo e teórico da comunicação canadense, conhecido por vislumbrar a Internet quase trinta anos antes de ser inventada.

A televisão, como já discutido anteriormente, potencializaria ainda mais esse alcance global de informação proporcionada pelo rádio na medida em que envolvia e criava opiniões. Desta forma, o conceito de McLuhan – o meio é a mensagem, une-se à sua noção de “aldeia global”, que, de fato, caracteriza a abrangência dessas novas tecnologias na, então nascente, era da informação. Para Manuel Castells:

“A difusão da televisão nas três décadas após a Segunda Guerra Mundial (…) criou uma nova galáxia de comunicação, permitindo-me usar a terminologia de McLuhan. Não que os outros meios de comunicação desaparecessem, mas foram reestruturados em um sistema cujo coração compunha-se de válvulas eletrônicas e cujo rosto atraente era uma tela de televisão. O rádio perdeu sua centralidade, mas ganhou em penetrabilidade e flexibilidade, adaptando modalidades e temas ao ritmo da vida quotidiana das pessoas.”

“O que era fundamentalmente novo na televisão? A novidade não era tanto seu poder centralizador e potencial como instrumento de doutrinação [afinal o rádio já o era]. (…) O que a TV representou, antes de tudo, foi o fim da Galáxia de Gutenberg, ou seja, de um sistema de comunicação essencialmente dominado pela mente tipográfica e pela ordem do alfabeto fonético.”

Manuel Castells Oliván é um sociólogo espanhol. Entre 1967 e 1979 lecionou na Universidade de Paris, primeiro no campus de Nanterre e, em 1970, na "École des Hautes Études en Sciences Sociales". No livro "A sociedade em rede", o autor defende o conceito de "capitalismo informacional".

Para McLuhan o meio é essencialmente a mensagem na medida em que “é o meio que configura e controla a proporção e a forma das ações e associações humanas” e “o conteúdo desses meios são tão diversos quanto ineficazes na estruturação da forma das associações humanas”, já que o “conteúdo” de qualquer meio ou veículo é sempre um outro meio ou veículo. Utilizando como exemplo a luz elétrica como meio, McLuhan afirma que ela é informação pura (quando não ilumina um anúncio) e que não quer constituir nenhum tipo de significado, embora haja dificuldade na perceção da luz elétrica como meio de comunicação, ou seja:

A mensagem da luz elétrica é como a mensagem da energia elétrica na indústria: totalmente radical, difusa e descentralizada. Embora desligadas de seus usos, tanto a luz como a energia elétrica eliminam os fatores de tempo e espaço da associação humana como o fazem o rádio, o telégrafo, o telefone e a televisão, criando participação em profundidade.”

A mudança de escala, cadência ou padrão que esse meio ou tecnologia introduz nas coisas humanas. A estrada de ferro não introduziu movimento, transporte, roda ou caminhos na sociedade humana, mas acelerou e ampliou a escala das funções humanas anteriores, criando tipos de cidades, de trabalho e de lazer totalmente novos.”

A eletricidade foi um dos mais excecionais e revolucionários meios do século XX, superando a linearidade nas tecnologias mecânicas e atribuindo novas dinâmicas na sociedade e nos seus meios de produção, desde a rutura da sequência dia/noite até à possibilidade de transmissão de informações em redes globais.

Para McLuhan, a “aldeia global” seria a representação mais clara da ligação do mundo inteiro através de circuitos elétricos, propagados pelos meios de comunicação emergentes (telefone, rádio, televisão), capazes de criar um mundo altamente conectado, onde cada um deveria compreender o seu papel e as suas relações, ou seja, a substituição de uma consciência individual para uma ideia global. E foi essa galáxia imaginada por McLuhan capaz de construir interações sólidas nos modos de vida na expressão cultural de muitos povos. Para Baudrillard o conceito de McLuhan, “o meio é a mensagem”, era “a fórmula-chave na era da simulação” e, com muita certeza o grau de complexidade que as tecnologias de informação e comunicação imprimiram nas ações quotidianas, muito estava relacionado também com uma certa deformação da realidade, da exposição plena e escancarada de simulacros que se tornaram lugar-comum na então dita pós-modernidade. E talvez seja essa a fórmula central da cultura de nossa época:

“(…) a “mídia” é a expressão da nossa cultura, e a nossa cultura funciona principalmente por intermédio dos materiais propiciados pelas “mídia”. Nesse sentido fundamental, o sistema de “mídia” de massa completou a maioria das características sugeridas por McLuhan no início dos anos 60: era a Galáxia de McLuhan. Entretanto, o fato da audiência não ser objeto passivo, mas sujeito interativo, abriu o caminho para a sua diferenciação e subsequente transformação da “mídia” que, de comunicação de massa, passou à segmentação, adequação ao público e individualização, a partir do momento em que a tecnologia, empresas e instituições permitiram essas iniciativas.” – Castells

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