Dedicado a todos os investidores,

A invenção da tecnologia Blockchain veio resolver um problema informático que persistia há décadas desencadeando uma revolução monetária formalizada na bitcoin. Esta moeda descentralizada e digital conheceu uma ascensão meteórica. Tendo sido adotada por centenas de milhões de pessoas em todo o mundo e vale aproximadamente $1 trilião em market cap, com base nas flutuações diárias do preço do dólar americano.

Nada mau para uma tecnologia completamente open source. A Bitcoin não tem um CEO, não tem um departamento de marketing, e não angariou dinheiro com capital de risco à medida que estava a ser construída ou escalada. A descentralização significa que ninguém, individual ou em grupo, controla o produto. Quaisquer alterações importantes necessitam forçosamente da convergência de uma grande parte da comunidade, incluindo os criadores de software, os mineiros (mining) e node operators, a fim de serem implementadas para os utilizadores.

Como se pode imaginar, o sistema legacy assistiu à ascensão da bitcoin com um sentimento de admiração e receio. Muitas das instituições tradicionais, especialmente os bancos centrais, estão impressionados com a criação de uma moeda verdadeiramente digital, juntamente com a rapidez com que as pessoas adotaram esta tecnologia nas respetivas economias. Estas mesmas pessoas assistem com medo ao perceberem que as suas organizações têm um zero controlo sobre a oferta de dinheiro neste novo sistema financeiro digital.

O controlo e produção de dinheiro tem sido historicamente reservado aos bancos centrais, mas este monopólio do dinheiro está diretamente ligado à estreita relação do banco central com o governo. O governo tem o monopólio da violência, de modo que podem assegurar que os bancos centrais continuarão o seu singular controlo e produção de dinheiro. Qualquer tentativa de contornar a estrutura do banco central tem sido recebida com uma resposta rápida e implacável.

É por esta razão que a descentralização da bitcoin é tão importante. Sem um único aspeto corruptível e falível, incluindo um CEO ou uma empresa ou servidores centralizados, há uma superfície de ataque muito menor para os governos e o seu violento monopólio. Uma vez que os bancos centrais não podem confiar nos governos para encerrar este novo participante no sistema, os banqueiros centrais têm sido forçados a considerar como podem competir no mercado livre.

Os banqueiros centrais não são conhecidos por serem inovadores. Em boa verdade, eu diria que os banqueiros centrais são bem-sucedidos porque se movem a um ritmo vagaroso e fazem apostas sistémicas sobre o mundo mudando muito lentamente. Mas a bitcoin forçou estas instituições a considerar digitalizar as suas moedas fiat de uma forma que emula a tecnologia da bitcoin, contendo algumas diferenças fundamentais.

Digitalizar o dólar/euro/peso/etc revela-se apenas uma atualização tecnológica. A política monetária destas moedas fiduciárias mantém-se inalterada. À semelhança de como as moedas físicas foram transitadas para CUSIPs electrónicas em bases de dados centralizadas, os bancos centrais estão a considerar uma atualização tecnológica para moedas fiat baseadas em tokens que sejam compatíveis com carteiras digitais.

Então, porque estão eles a considerar esta transição?

Uma pessoa otimista argumentaria que a incorporação de nova tecnologia é uma tentativa de modernização para um sistema antiquado. Os utilizadores individuais de moedas digitais do banco central (CBDC) poderiam enviar qualquer quantia de dinheiro 24/7/365. A ideia de horas necessárias para as operações seria uma coisa do passado. Os carris de pagamento em que os CBDC seriam construídos seriam mais eficientes – tempos de liquidação mais rápidos, taxas de transação mais baratas, etc. Por último, haveria uma maior transparência no sistema que teoricamente poderia diminuir a criminalidade e aumentar a segurança do mercado.

Esta é obviamente a perspetiva positiva. Mas temos de ser muito cauteloso neste assunto. Pois, as moedas digitais do banco central serão provavelmente uma das maiores violações dos direitos humanos na história.

As moedas digitais do banco central eliminam a privacidade e a natureza descentralizada do dinheiro físico. Cria um ambiente onde os bancos centrais têm controlo total sobre todos os aspetos da vida financeira de um cidadão. Eis alguns exemplos das merdas desagradáveis que podemos esperar ver nas próximas décadas:

Inflação personalizada – Os bancos centrais têm atualmente a capacidade de manipular as taxas de juro e expandir/contrair a oferta de dinheiro. Quaisquer alterações que façam são aplicadas a todos os cidadãos por igual. Os participantes individuais no mercado podem tomar decisões que venham a beneficiá-los ou a prejudica-los, mas os dólares que eu possuo estão sujeitos à mesma política monetária que os dólares que você possui. Isto vai mudar com os CBDCs. O banco central será capaz de personalizar a política monetária ao indivíduo. Tal como as suas notícias, resultados de pesquisa e listas de reprodução de música são personalizados com base em grandes quantidades de dados, o mesmo está a acontecer com o dinheiro. Talvez eu receba uma taxa de inflação mais alta numa tentativa de me fazer gastar dinheiro, enquanto vocês recebem uma taxa de inflação mais baixa. A diferenciação da política monetária pode ser reduzida de um milhão de maneiras, incluindo onde vive, quem é, o seu estatuto de riqueza, a sua ocupação, o seu histórico de compras, e muito mais.

Censura financeira – Quando a moeda digital de um banco central está nas mãos de uma população, o banco central solidificou o pretendido controlo total. Já não terão de se dirigir ao sistema judicial ou invocar poderes de emergência para lhe dizer com quem pode fazer transações. Tudo isto pode ser implementado através de tecnologias digitais e remotas. Estes banqueiros centrais poderão ver o que está na sua conta bancária, com quem transaciona, o que compra, e qualquer outra coisa sobre a qual tenham curiosidade na sua vida financeira. Essa transparência total com o Estado remove todos os elementos de privacidade, ao mesmo tempo que dá às instituições a capacidade de censurar toda e qualquer transação, independentemente de terem ou não uma razão legítima.

Sistema de crédito social – Quando os bancos centrais e os governos ganham controlo total sobre o sistema financeiro, têm a capacidade de recompensar ou punir os cidadãos individuais pelas ações que tomam. Têm comido demasiados doces? Então ficam impossibilitados de comprar doces. Tem andado a jogar? Agora não pode utilizar os transportes públicos que o levavam ao casino. Tudo isto soa a conspiração até se aperceber que o Banco de Inglaterra está agora a falar abertamente sobre isto em público. A China já tem um no local. O Canadá está a implementar um em tempo real neste momento. És gordo? Apenas comida saudável pode ser comprada. Associa-se a pessoas de quem o banco central não gosta? Não há entretenimento para si. Este é um declive escorregadio que se está a aproximar rapidamente.

Expiração do dinheiro – Se é um banqueiro central, está constantemente a tentar incentivar as pessoas a gastar dinheiro na economia para que possa aumentar a velocidade do dinheiro. Sem a velocidade do dinheiro, o sistema começa a avariar. Portanto, que melhor maneira de aumentar a velocidade do dinheiro do que ter o dinheiro das pessoas a expirar se não o gastarem em determinado período de tempo. Os EUA já têm uma versão disto através de benefícios SNAP e cartões EBT, onde o dinheiro expira um ano após a sua emissão, a menos que tenha sido utilizado. A expectativa é que o governo expanda esta ideia de expiração do dinheiro para incluir prazos mais curtos e um maior número de programas no futuro.

Estes são apenas quatro exemplos de várias atividades em que prevejo que os bancos centrais se envolverão quando tiverem sucesso na criação e distribuição de moedas digitais do banco central (CBDC). Como diziam os antigos, o poder corrompe já o poder absoluto corrompe absolutamente. O sonho de cada ditador ou líder autoritário a nível mundial é ter controlo total sobre todos os aspetos da vida dos seus cidadãos. Se o governo não só pode censurar as suas transações financeiras com base num sistema de crédito social, como também pode personalizar a política monetária e dar-lhe dinheiro com uma data de expiração, então estamos a caminhar para um futuro distópico em que ninguém vai querer viver.

O direito humano básico inalienável é que todos nós nascemos como pessoas livres. A criação de moedas digitais do banco central irá eliminar completamente essa premissa. Todo o ser humano nascerá num estado autoritário que exige que seja um escravo digital de um banco central que detém controlo total sobre a sua vida. Revela-se muito simples: Se não têm a liberdade de transacionar, não têm liberdade.

As moedas digitais do banco central são a próxima fronteira na batalha pela liberdade. Todo o ser humano deve ter o direito à privacidade financeira e à respetiva independência. Esta é uma conversa premente que deve começar agora. Sem uma consciencialização global, os bancos centrais irão conseguir a maior violação dos direitos humanos que alguma vez vimos e os cidadãos irão aplaudi-los enquanto o fazem.

Texto original escrito em “The Pomp Letter”

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